Eros & Psique: por que minha clínica se inspira nessa história?
- amandagontijopsi

- 29 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de jun.

Eros (amor -- beija-flor), Psique (alma - Borboleta) & encontro (flor) como forças que se tensionam e se reconciliam.
O mito de Eros e Psique: uma história sobre amor, alma e travessia
Você já reparou que meu logo traz um beija-flor diante de uma flor com uma borboleta?
Essa imagem não é aleatória.Ela nasceu de um encontro entre psicologia, mito e alma.Ela é inspirada na antiga narrativa de Eros e Psique — um conto ancestral sobre o amor, o autoconhecimento e a travessia do sofrimento em direção ao reencontro com o próprio ser.
A dimensão simbólica da clínica
O mito de Eros e Psique é um dos contos que mais me impressionaram na trajetória acadêmica, de tantos outros mitos especulares e simbólicos da tradição clássica. Não sei se você esta familiarizado com esta tendencia mas, as bases da psicologia e de muitos conceitos psicológicos são construídas através de contos clássicos e filosóficos gregos – em sua maioria. Um grande exemplo é o conto que norteia a psicanalise freudiana, o mito de edipus, que deu origem a toda construção do complexo de édipo enquanto analogia e metáfora para explicar a construção da sexualidade infantil e do processo de castração, de acordo com o proposto por Freud.
Entretanto, há na psicologia muito mais abordagens do que aquela originaria – a psicanalise proposta por freud, pai da psicologia. Algumas abordagens, portanto, buscam inspiração em outros nichos e.ou em outros contos e mitos. Um destes contos, sob o qual me debruço aqui, é o mito de Eros e Psyche.
Esta é uma história que, muito além de um romance mitológico – assim como se propõe o uso de mitos na psicologia, -- expressa uma profunda jornada de autoconhecimento, sofrimento, transformação e amadurecimento da alma — Psique, em grego, significa justamente “alma” ou “sopro vital” e, além disso, faz referencia á psyche que no grego antigo significa alma, abrangendo as ideias modernas de alma, ego, mente e espírito; termo angariado pela psicologia posteriormente.
O Mito de Eros & Psique: a alma que desperta
De acordo com o que nos conta a antiga mitologia grega, de maneira resumida, Psyche -- representada na mitologia pela borboleta, era uma jovem de beleza extraordinária, tão encantadora que começou a ser adorada como uma deusa pelos homens, despertando a inveja de Afrodite, a deusa do amor. Incomodada com essa veneração, Afrodite ordena que seu filho Eros (o deus do amor e do desejo) a faça se apaixonar pela criatura mais vil da terra.
Mas ao ver Psique, Eros – representado na mitologia pelo beija-flor -- se encanta. Em segredo, a leva para um palácio encantado, onde a visita todas as noites — sem revelar sua identidade. Psique não pode ver o rosto de seu amante.
Tomada pela dúvida Psyche quebra a regra e acende uma lâmpada para ver quem é o seu amado. Nesse momento, descobre que está diante de Eros, o próprio Amor, e quebrando a confiança que sustentava aquela relação. Eros foge. O palácio desaparece. E começa então a verdadeira travessia.
Psyche percorre um longo caminho em busca de seu amado, enfrentando para que pudesse vê-lo novamente quatro provas impossíveis de Afrodite: Separar sementes misturadas, Buscar a lã dourada de carneiros ferozes, Trazer água do rio Estige, guardado por monstros e, por último, descer ao mundo dos mortos e retornar com uma caixa de beleza de Perséfone.
Eros, comovido por sua entrega e empenho em sua busca, vai ao seu encontro. Psyche é transformada em imortal e os deuses a acolhem, comovidos, permitindo que Eros & Psyche sejam unidos.
A travessia da Psique como símbolo da jornada terapêutica: dor, perda, reencontro com o desejo.
Pois bem. Assim como o que se propõe a partir do mito de Édipo Rei, o mito de Eros e Psyche aqui não fala de um amor idealizado. Aqui falamos sobre o confronto com a dor, da separação, da sombra, da transformação.
No mito, Psyche (a borboleta) representa a alma humana. E Eros (o beija-flor), o deus do amor, surge como a força que transforma — mas que também testa, desestrutura, exige escolhas – o encontro terapêutico consigo mesmo.
Como metáfora a partir do mito, as quatro provas de Afrodite podem ser simbolizadas:
Separar sementes misturadas — símbolo da necessidade de desenvolver discernimento, organização interior.
Buscar a lã dourada de carneiros ferozes — aprender a agir com sabedoria diante do perigo.
Trazer água do rio Estige, guardado por monstros — coragem diante do inatingível.
Descer ao mundo dos mortos e retornar com uma caixa de beleza de Perséfone — o desafio supremo: atravessar a própria morte psíquica e renascer (ressignificar).
Assim como no mito, o trabalho com a Psyche é um mergulho na escuridão. Através de perguntas diante do abismo, no desejo de ser vista e compreendida. É também reencontro com a própria beleza e com a transformação. A flor, representa aqui a o encontro em desabrochar. É o símbolo de algo que floresce no processo do encontro terapêutico.
O beija-flor (Eros), com sua leveza e precisão, representa aqui o papel da escuta terapêutica: uma presença que se aproxima sem invadir, que toca com delicadeza,que se alimenta do que é mais sutil e genuíno: o néctar da experiência humana.
A borboleta representa a psique humana, num processo de constante transformação, metamorfoseando-se e em busca da liberdade do voo.
O beija-flor, a borboleta e a flor, juntos, simbolizam o que acredito sobre o processo terapêutico:
Entre quem escuta e quem se permite florescer.Entre a alma que busca sentido e a presença que sustenta o voo.




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